24/08/2003 Real Madrid, gigante na
bola e no marketing
MADRI - Nenhum time no mundo conseguiu tantos troféus quanto o Real Madrid,
101 anos e que a Fifa classificou de "Clube do Século XX". Mas, desde 2000, a
equipe espanhola começou a passar do triunfo esportivo para a glória da
prosperidade econômica.
Depois de vários anos com as contas no vermelho, um novo presidente deu
reviravolta na atividade econômica e agora se acredita que o Real seja o clube
mais rico do mundo, superando o poderoso Manchester United. A sala dos troféus
no estádio Santiago Bernabeu está abarrotada de taças, inclusive as que lembram
a façanha única de ter vencido nove vezes a Copa dos Campeões.
A loja de lembranças, também no estádio, não dá conta de atender a todos os
pedidos de camisetas, que custam em torno de R$ 220. Contudo, as contas do Real
Madrid estavam no vermelho quando os 75.000 sócios elegeram Florentino Pérez
para presidente, em meados do ano 2000. Uma de suas promessas de campanha era a
de contratar o português Luis Figo, que jogava no Barcelona, seu rival histórico.
Pérez foi eleito e Figo transferiu-se para o Real Madri , por US$ 56 milhões,
tornando-se o primeiro de uma série de supercraques atraídos para o clube.
Em 2001, Pérez, que fundou a segunda maior companhia de construção da Europa
e que descrevia o Real como seu hobby, contratou o francês Zidane por um preço
recorde US$ 65 milhões. No ano passado, foi a vez de Ronaldo por US$ 47 milhões.
Mais recentemente, em junho, 500 repórteres estiveram presentes à
apresentação do mais querido jogador da Inglaterra, David Beckham, que passou do
Manchester United para o Real Madrid por US$ 41,3 milhões.
Estratégia atrevida - A política é clara: encher o Real Madrid de
jogadores fabulosos, melhorar a qualidade da equipe e seu prestígio
internacional. Depois, vender as famosas camisas brancas, o patrocínio comercial
e os direitos de televisão. O Real Madrid trata de explorar todas as opções de
merchandising, da tevê aos Dvds.
O modelo, disse José-Ángel Sánchez. diretor de marketing do clube, é o mundo
do entretenimento. Mas ele tem consciência de que o sucesso depende da qualidade.
"Nenhum jogador vende camisas, se não for um fenômeno no campo", avisa.
O Real Madrid tem uma longa e gloriosa história esportiva, mas suas contas
em 2001 mostravam prejuízo operacional de mais de US 100 milhões. Com os juros,
ia para US$ 135 milhões.
O clube conseguiu a virada com um ganho extraordinário de US$ 170 milhões,
graças à venda de futuros direitos de merchandising. O acordo foi feito com a
Caja Madrid, instituição financeira espanhola, e com a Sogecable que lhe deram
folga nas contas.
As duas companhias têm estreitas ligações com o clube e a Caja Madrid é um
banco de poupança administrado pela cidade de Madri, enquanto a Sogecable é
importante grupo de mídia, proprietário de uma das operadoras de tevê digital e
por satélite que transmitem jogos de futebol.
Em 2002, as contas também incluíram ganhos, desta vez de mais de US$ 520
milhões, graças a uma controvertida transação imobiliária que aliviou a pesada
de dívida do clube.
Pérez, que está muito bem relacionado política e socialmente com quase todas
as pessoas importantes na Espanha, persuadiu a prefeitura de Madri a autorizar a
modernização urbana dos campos de treinamento do clube, situados num dos
extremos da principal artéria da capital (o Paseo de la Castellana).
O Real vendeu parte do terreno para empresários do setor imobiliário. Cerca
de 20% dos lucros da venda foram incluídos no balanço do ano fiscal de 2003, que
terminaram em junho.
Graças em parte a estas operações, Sánchez afirma que as contas do Real
Madrid em 2004 irão apresentar, pela primeira vez em 40 anos, lucro genuíno,
independentemente de ganho extraordinário. "Hoje, o Real Madrid é um clube com
contas saudáveis", diz.
A busca de novos mercados também é clara. Um jogador como Zidane é atração
para os árabes, por sua origem. Ronaldo é atraente para os mercados do Japão e
do Extremo Oriente, além do Brasil. Beckham tem ainda mais prestígio na Ásia.
A prova de que o sucesso financeiro é possível veio com a pré-temporada
encerrada dias atrás. Para jogar na China, no Japão e na Malásia, o Real ganhou
mais de US$ 10 milhões. No ano que vem, é quase certo que o Real Madri fará
excursão pelos Estados Unidos, onde o Manchester United se apresentou com lucro.
"Queremos alternar entre EUA e Ásia", admite Sánchez.