Resort histórico de renomadas
personalidades como Mark Twain, Emile Zola, Alexandre Dumas, Sergej
Rachnanninof e Rainha Vitória, a pequeníssima Weggis respira no ritmo
suíço. Acorda lentamente, iluminada pelo brilho esfuziante dos Alpes ao
fundo. Dorme cedo, com a brisa do lago Lucerne, que abraça todo o seu
contorno.
Não tem trânsito. Encontrar mais do que cinco pessoas circulando na rua
ao mesmo tempo é um evento. E tudo tem hora certa, como os bons relógios
do país. Ainda. A quatro dias da chegada da Seleção Brasileira, que
escolheu a cidade de 4.001 habitantes (sim, assim tão preciso) como sede
de sua preparação para a Copa, os habitantes e comerciantes de Weggis
acreditam que a cidade vai sofrer apenas uma pequena mudança de rotina,
mas com um pouco de dedicação e a tradicional eficiência dará conta de
atender a demanda, como já faz nas suas usuais temporadas de verão, que
são famosas desde 1892, quando já existiam 11 hotéis no local.
A realidade desta primeira temporada de futebol, no entanto, deverá ser
cruel com a cidade que de tão plácida parece cenográfica e fica a 55 km
de Zurique. Não chegaram nem 10 dos 700 jornalistas do mundo inteiro
credenciados para cobrir o dia-a-dia do Brasil e rostos assustados já
aparecem nas janelas, nas ruas, nos restaurantes e nos hotéis.
Há conexões wi-fi de internet sim, mas que caem com três computadores
conectados ao mesmo tempo. Um jornalista espanhol tentou utilizar um "pen
drive" nos computadores de um hotel para tirar uma cópia de um documento,
mas as máquinas não aceitavam. Os poucos restaurantes não prepararam
nenhum esquema especial para receber a tradicional e barulhenta trupe
que acompanha a seleção mundo afora. Vão estender apenas o horário de
atendimento, das 21h30 para as 23h.
Os dois únicos bares da cidade informaram que não vão mudar de horário.
Felizmente, um deles, o Art Bar, fecha diariamente às 2h30. Mas não
adianta pedir comida depois das 22h. Um sorriso brasileiro talvez faça a
garçonete filha de libaneses descongelar um pizza sem gosto e colocá-la
em um micro ondas para enganar o estômago. A única e modesta discoteca
da cidade não crê em superlotação.
O esquema de segurança ainda não foi divulgado. Por enquanto, o
tradicional posto policial, chamados pelos moradores de escritório,
continua sua rotina, comandado por três inspetores. Violência e crime
são expressões praticamente banidas dos dicionários dos moradores. A
última grande ocorrência policial foi o arrombamento de um hotel,
durante uma dessas noites normais. Não há porteiros nem recepcionistas
na maioria dos hotéis da cidade. Aliás, as chaves dos quartos são
penduradas em um quadro geral fora da recepção, quando os hóspedes saem
para passear ou trabalhar.
Vazia na maior parte do dia e da noite, a cidade tem uma imagem marcante
em tempos de ansiedade com a chegada dos brasileiros. De dentro das
janelas, mãos arrastam cortinas para mostrar o rosto em busca de
novidades. Bandeiras brasileiras são penduradas nos apartamentos como
sinal de "sejam bem-vindos". Weggis, fundada em 998, que já foi
Quatigiso, Gautegiso, Wetgis e Waggis, tem um amor platônico por esses
desconhecidos "brasileiros". Amor que pode não vingar ao se defrontar
com os reais personagens dessa história que Mark Twain não assinaria. |